Ateliê de uma Adolescente: Capítulo 41

Capítulo 41 – “A Fenda”

Três dias depois, eles já haviam avançado consideravelmente. O navio era rápido como poucos. A noite do terceiro dia caiu.

Gibbs baixou âncora enquanto Taylor, Logan e Louis discutiam o plano de rota com Jack. Na cabine do capitão, eles estavam debruçados sobre um mapa.

- Não, meus senhores... – Disse Jack, com um ar de desdém como se ele fosse uma criatura superior. – Não há como percorrer o trajeto antes de oito dias. Veja – Jack indicou com o dedo um local do mapa. - há aqui uma elevação de rocha e nós temos que contorna-la. Por isso a demora, mesmo com meu navio sendo muito rápido.

- Não há nenhum atalho? – Quis saber Logan. – Diga, você conhece bem essas águas.

Jack coçou a barba.

- Na verdade, há um atalho, sim. Mas é um local muito perigoso. Há milhares de embarcações destroçadas por lá.

- E que local é esse? – Perguntou Louis.

- Chama-se “A Fenda”. É perigosa porque é muito estreita e recheada de rochas pontiagudas em volta e em baixo em alguns pontos. É muito fácil destruir a embarcação e ficar atolado lá para sempre, ou morrer afogado.

Eles concordaram.

- Parece que não há outra opção. Sigamos então com o plano de rota que contorna o rochedo. – Definiu Logan.

Jack sorriu e pegou sua garrafa de rum. Taylor a tirou da mão dele.

- Já chega por hoje, amigo. Não queremos que a sua bebedeira arrisque a nossa segurança.

Os últimos três dias no Pérola Negra haviam sido de adaptação, em todos os aspectos: Harry passara os primeiros dois dias vomitando, e o resto também ficara um pouco enjoado. Jack não fazia questão de conversar muito com nenhum deles, porém Mr. Gibbs era alegre e fizera amizade com todos, especialmente com Niall e Liam. Os dois príncipes e Louis haviam conversado mais e se inteirado de mais aspectos da missão, mas evitavam falar entre si, ficando mais isolados com o resto de suas comitivas a maior parte do tempo.

Todos eles trabalhavam e faziam as tarefas do navio, orientados por Jack e Mr. Gibbs. Louis se surpreendeu com a simplicidade e humildade dos príncipes. Em nenhum momento eles abriam mão do trabalho necessário, mandando um de seus oficiais fazê-lo. Não era a ideia que ele tinha da nobreza.

Louis jamais admitiria, mas com o passar do tempo, ele foi simpatizando com Logan e Taylor. Queria odiá-los, especialmente porque estavam atrás de um mesmo objetivo, e se um deles ganhasse, Louis se sentiria um infeliz o resto de sua vida, mesmo que Eleanor fosse resgatada. Mas, a cada dia que se passava, menos ele conseguia detestá-los.

No quarto dia, a noite estava abafada, e todos eles se sentaram no convés para descansar depois de um dia de sol escaldante. Jack conduzia o navio, e Louis, inacreditavelmente, se juntou a Logan, Taylor, Liam, Zayn, Niall e alguns outros homens para jogar baralho.

Apenas Harry e Pin não quiseram jogar. Outros homens dormiam pesadamente encostados à amurada, com exceção de Mr. Gibbs, que havia bebido tanto que acabara hibernando em um canto. Nem com um balde de água fria na cara ele acordaria.

Pin sentou na outra amurada, oposto aos homens que jogavam. Ele estava folheando o livro que Dumbledore entregara a Liam, quando sentiu uma mão em seu ombro e se assustou.

Quando olhou para cima, era Harry.

- Pin! Amigão! E aí, como você está?

Pin estreitou os olhos. Que calorosa aquela recepção de Harry. Estranho...

- Olá, Harry. Estou bem, obrigada, quer dizer... obrigado. – respondeu, estrangulando-se mentalmente por não tomar mais cuidado. Sabia que Harry andava sondando-o desde o incidente no bosque em Hamelin. Será que desconfiava de alguma coisa? Liam prometera guardar segredo.

- Sério? Está bem mesmo? Porque eu estava de passagem pela sua cabine hoje quando encontrei ISTO bem debaixo da sua cama! – Harry tirou do bolso um pedaço de lenço de tamanho grande, com uma grande mancha vermelha bem no meio, que cheirava muito mal, e estava meio pastosa.

Sangue de menstruação.

- Então, Pin... – Harry pronunciou o “nome” do chinês com um ar inquisidor. – Pode me explicar o que é isto?

Mulan gelou. Seus olhos se arregalaram enquanto seus neurônios procuravam desesperadamente por uma resposta coerente à pergunta de Harry. Com tantos homens no navio, não havia como ela lavar o sangue sem ser vista. Então, escondera todos os vestígios de sua condição feminina embaixo da cama. Seu plano era que, quando todos tivessem dormido naquela noite, ela pegaria um pouco de água do estoque e lavaria suas roupas e lenços sujos desde o dia anterior. Jogaria a água fora logo em seguida, desaparecendo com qualquer vestígio de sua atividade.

- Ah... Isso... Isso é... – Ela tentava manter o tom de voz natural, mas não estava conseguindo. – Bom, isso é... Um sangramento recente do meu ferimento. Aquele lateral que Liam tratou em Hamelin.

- Ah, é? – Harry aproximou um pouco o lenço do nariz e o cheirou, fazendo uma cara de nojo logo em seguida e afastando o pano sujo. – Não parece... Por que esse cheiro horrível?

Em sua cabeça, Harry sentia que estava encurralado Pin. Ele sabia, mais ou menos, o que era aquilo. Teria a confirmação estudando a resposta e o comportamento de Pin.

- Ah, isso. Na verdade, eu passei um anti-inflamatório em cima do meu ferimento e limpei o excesso dele hoje de manhã. Por isso o aspecto meio pastoso e o cheiro ruim. O remédio é... é à base de... lama...

- Lama?! – Harry ficou surpreso com a resposta de Pin. Será que poderia ser aquilo mesmo? Então, por que Pin estava tão vermelho? E por que parecia meio nervoso? – Eu nunca ouvi falar em um remédio à base de lam...

- Ei, espere aí! – Mulan cortou-o, a fim de que ele parasse de fazer conjecturas. – O que você estava fazendo fuçando a minha cabine?

Harry foi pego de surpresa. Agora ele é que estava vermelho e não sabia o que responder. Esqueceu-se totalmente de seus pensamentos anteriores, como desejava Mulan que o fizesse com seu desvio da conversa.

- Bem... Ah... Eu... Você sabe... – Harry sorriu, tentando esconder o nervosismo e o embaraço... Então... TCHAU! – Ele se levantou e saiu correndo para longe.

Mulan suspirou. Ufa! Aquela tinha sido por pouco. Será que ele acreditara nela? Provavelmente não. Porém, ele ficara envergonhado o bastante para não incomodá-la de novo por um bom tempo. Ela anotou mentalmente que, a partir daquele dia, teria que tomar mais cuidado com Harry, e esconder bem melhor seus vestígios de feminidade.

....

No dia seguinte, eles avistaram o pedaço do rochedo que teriam de contornar. Desde a madrugada, eles haviam entrado em uma zona de neblina. Jack dirigia o navio bem devagar, pois a neblina era muito densa. Quando eles puderam ver a pedra do rochedo, estavam há apenas cerca de sete metros dela.

- Estão vendo?! – Declarou Jack, com orgulho de ter dado a informação certa. – É isso que temos de contornar, rapazes! E aqui, Jack apontou para frente, é “A Fenda”.

Bem em frente a eles, havia uma estreita abertura vertical no rochedo alto.

- Nossa, ela é realmente muito estreita... – Comentou Logan. – Mal cabem dois barcos deste tamanho.

Jack riu.

- Essa é a parte mais ampla da Fenda, meu jovem. Mais para frente é que estão as carcaças dos navios naufragados. A pior parte.

- Alguém já conseguiu passar por essa Fenda antes?

- Sim... Alguns poucos navegadores muito mais experientes... E definitivamente muito mais sortudos.

- Você já passou por ela? – Perguntou Liam, que estava próximo.

- Uma única vez, eu passei, sim, com este mesmo navio. Ele está bem equipado para passar pelos obstáculos da Fenda. Mas não era eu que estava conduzindo o navio. Era um outro capitão...

- Quem? – perguntou Louis.

- Ele chamava-se Barbos...

Jack não pôde terminar a frase. Nesse exato instante, uma flecha, acompanhada de um zunido alto, acertou no convés um dos oficiais de Logan, que caiu, morto.